Grande Léo Batista
Reprodução do texto de Renato Ribeiro, diretor da Globo / Globo Esporte, de 20/01/2025
Era uma cena cotidiana na nossa redação. Seu Léo — como era carinhosamente chamado — se aproximava de uma mesa, esfregava as mãos, arregaçava as calças, ficava agachado (sim, agachado já depois dos 80 anos) e todos já sabiam... vinha mais um causo de alguma época. De todas as épocas. Não existiu TV no Brasil sem a voz do Léo. Ele era o dono de todas as histórias antes e depois do surgimento da TV. E foi assim que gerações de jornalistas e ex-atletas conviveram com o seu Léo. Na prática, todos nós somos um pouco estagiários dele.
Diariamente, era emocionante ver a convivência do seu Léo com as novas gerações ao longo dos anos. Imagine para um jovem jornalista esportivo cruzar com ele, conversar com ele. E era uma via dupla. Léo sempre se alimentou da energia dos jovens. Um combustível para seguir adiante. Combustível que fez Léo viver várias vidas. E esse amor pelo que fazia se transformava em combustível para quem estava à sua volta. Uma inspiração cotidiana.
Aos 92 anos, João Baptista Belinaso nunca parou de trabalhar desde o dia em que começou no serviço de alto-falantes de sua cidade natal, Cordeirópolis (SP), quando tinha 14 anos. Sempre usou a voz para brilhar. A voz. A voz marcante. A voz que marcou nossas vidas. Uma carreira longeva e de sucesso inigualáveis. Quem mais conseguiu dar a notícia das mortes de Getúlio Vargas, em 1954, pela Rádio Globo, e de Ayrton Senna, pela TV Globo, 40 anos depois?
Léo sempre se reinventou. Foi preto e branco e a cores. Foi SD, HD e 4K. Foi alto-falante, rádio, TV e digital. Atravessou décadas, épocas distintas, revoluções na forma de se comunicar e jamais foi um deslocado em cada tempo. Ao contrário. Ressurgia a cada dia, com a mesma paixão de Cordeirópolis.